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sábado, 17 de setembro de 2011

Vaia de estudantes irrita Lula em universidade do ABC



Ricardo Stuckert/Divulgação
Acompanhado do ministro Fernando Haddad, Lula participou da festa de aniversário de cinco anos da Universidade Federal do ABC, em Santo André (SP). Em meio a uma platéia estimada em 500 pessoas, havia uma claque de cerca de 20 estudantes hostis.
Portando faixas, reivindicavam a destinação de 10% do PIB para a educação. Antes de deixar o Planalto, Lula estipulou meta mais modesta: 7%. Ministro desde a gestão passada, Haddad foi vaiado ao discursar.
Quando Lula foi ao microfone, esboçou-se a continuidade da algaravia. Abespinhado, o ex-soberano elevou o tom (aqui, a íntegra do audio). De saída, ironizou:
“Se esses jovens que estão com a faixa de 10% do PIB, que é justa, tivessem feito essa reivindicação no meu governo possivelmente eles teriam sido atendidos. [...] É que nunca fizeram. Essa tese é nova. Até ontem, a faixa era de 7%.”
Os estudantes chiaram. E Lula: “Se tem uma coisa que eu aprendi a respeitar é o direito de as pessoas reivindicarem, porque se não fosse assim eu não teria virado presidente da República desse país. É ou nao é?”
Lula prosseguiu: “Precisamos caminhar para ter 10% na educação, parte do pré-sal na educação, pagar melhor professores das universidades. Acontece que essas coisas não acontecem porque um cidadão se acha no direto de gritar”.
Em timbre exaltado, Lula conduziu o discurso para o interior de uma residência pobre: “Nao adianta chegar no final a semana e bater a porta, dizendo pra mãe: ‘me dá dez pila’, ‘me dá dez real’ que eu vou numa festa. A mãe fala que não tem e o filho fala que a mãe é babaca. [...] Ele nunca perguntou se a mãe tem dinheiro.”
Mais adiante: “Gritar é bom, mas ter responsabilidade é melhor e mais importante para que a gente construa este país.” Aos poucos, a "turba" a favor, em maioria, foi prevalecendo sobre a turma do contra. Os aplausos abafaram o que restou do protesto.
Lula foi se convertendo num orador de tórax duplo. A barriga como que virou um segundo peito. Rebaixou o calão do vernáculo: “Eu tava no Congresso da UNE, quando a oradora principal era uma filha de servente de pedreiro que tava fazendo o quarto ano de medicina...”
“...Tem gente que fala: ‘puta merda, esse Lula é uma desgraça mesmo. Uma pobre negra fazendo curso de medicina. Curso de mecina é pra branco, pra gente alta, pra gente de olhos azuis, de olhos verdes...”
“...Pobre tem mais é que ser pedreiro, empregada doméstica. Acabou, meus filhos. Acabou. O pobre não aceita mais intermediários na política. Ele pensa com a sua cabeça, enxerga com seus olhos, ele anda com as suas pernas.”
Como nos velhos tempos, Lula alfinetou a ex-oposição: “Eu lembro quando disseram pra mim: 'o bolsa família é uma esmola.' [...] Pra um filho de papai ou pra um cidadão de classe média é fácil tomar dez uísques e dar R$ 70 de gorjeta...”
“...Mas dê R$ 70 na mão de uma mulher pobre pra saber o milagre que ela faz, levando comida pros seus filhos, levando pão, levando leite. É isso que é um milagre.”
O ex-soberano abriu um parêntese para enaltecer o vaiado Haddad, seu canditado à prefeitura de São Paulo: “Eu duvido que neste país tenha tido um ministro da Educação que tenha se dedicado 10% do que esse moço se dedicou.”
Fechado o parêntese, retomou a linha de autolouvação. Recordou uma passagem de sua Presidência. Um grupo de funcionários da Polícia Ferroviária Federal cotumava protestar por melhores salários defronte do Alvorada.
Por vezes, disse Lula, as manifestações ocorriam de madrugada, quando ele chegava de viagens internacionais. “Três horas da manhã, iam pra porta de casa. E eu nunca passei sem parar o carro. [...]  E dizia: a luta continua, companheiros. Da mesma forma que eu vou dizer pra vocês [estudantes]: não parem de reivindicar.”
Jactou-se de ter criado a universidade do ABC. Disse que morrerá tranquilo. Posando de vítima, declarou que, tendo sido “metalúrgico, chamado de analfabeto, vítima de preconceito“, fez mais pela educação do que qualquer antecessor.
“Não tem nada mais analfabeto do que um cara pensar que é inteligente pela quantidade de anos que ele passou na escola. [...] O técnico a gente contrata, na sua função específica. Isso aqui forma médico, forma engenheiro, isso aqui forma o que a gente quiser. Mas não forma político pra tomar decisão.”
Repisou um lero-lero muito usado na campanha de 2010: ”Eu passei 20 anos carregando faixa ‘fora daqui o FMI’.” Dirigindo-se aos estudantes hostis, acrescentou: “Se eu não tivesse passado pela Presidência, vocês tavam aí cheios de faixa ‘fora fmi’. Eu não só mandei embora como emprestei US$ 14 bilhões pra eles ficarem devendo.”
Sob aplausos, encerrou: “Então, meu querido Fernando Haddad, meu querido magnífico reitor, essa sociedade que grita às vezes contribui mais para a democracia do que a sociedade que silencia.” Prometeu voltar para a festa do aniversário de seis anos da universidade. A luta continua.

Josias de Souza

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